Temporada junina quente (como o inverno) # 9
A Feira do Livro, Adélia Prado, literatura de Gabriel García Márquez (que virou minissérie), o disco solo do Samuel Rosa e músicas juninas que faltam nas festas
O inverno começou com temperaturas elevadas por aqui (o El Niño foi embora, pero no mucho) e, com o perdão do trocadilho, tenho deixado esse verão para mais tarde enquanto faço minhas escolhas culturais!
📖 De 29 de junho a 7 de julho, A Feira do Livro movimenta a Praça Charles Miller, no Pacaembu. Tem escritores e escritoras muito interessantes trocando ideias, estandes de livrarias, editoras e algumas promoções que valem a pena (ano passado, comprei livros com descontos progressivos). Quem tiver com o capilé sobrando, pode investir naquelas publicações que estavam na lista dos desejos e buscar nas editoras pequenas novos talentos.
Todos os envolvidos na produção literária são fundamentais, especialmente num país onde os livros ainda são luxo e, pior, alvo de censura (por aqueles que sequer se dão ao trabalho de ler e interpretar um texto).
Dicas espertas: vá com calçados confortáveis, leve protetor solar, garrafa d’água, prefira deixar o carro em casa (a região é meio chatinha para estacionar) e, sobretudo, não deixe de levar livros para doação, pois serão destinados a bibliotecas do Rio Grande do Sul. Saiba mais aqui.
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_474,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fsubstack-post-media.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2Fc42d320f-777b-42a3-82ba-515987376007_960x1280.jpeg)
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_474,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fsubstack-post-media.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2Ff0f3ff21-bc72-4489-a15e-5cd021091355_960x1280.jpeg)
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_474,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fsubstack-post-media.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2F841b9f69-f89e-4b21-b489-00d07c4dedf5_960x1280.jpeg)
Paisagens da Colômbia por Gabriel García Márquez
Antes mesmo de ser lançado, Em Agosto nos Vemos gerou um burburinho entre leitores e críticos. Publicar ou não o fruto do derradeiro esforço de memória do colombiano, Prêmio Nobel de literatura, valeria a pena?
Gabriel García Márquez chegou a escrever para seu editor que o livro não prestava. Seus filhos, Rodrigo e Gonzalo, pediram desculpas ao pai, morto em 2014, e decidiram apresentar aos leitores a peregrinação de Ana Magdalena Bach.
Sempre no oitavo mês do ano, a personagem - uma mulher casada e com mais de 40 anos - viaja até uma ilha úmida no Caribe para levar gladíolos (nunca rosas) ao túmulo de sua mãe. A tradição fúnebre é quebrada por uma noite de aventuras com um estranho.
Poderia ser um conto? Acredito que sim. Entendo Gabo, entendo Rodrigo e Gonzalo. Um escritor genial pode não gostar de uma obra específica e seus herdeiros podem querer compartilhá-la com seus milhares de leitores pelo mundo.
Antes de concluir Em Agosto nos Vemos, recebi do Grupo Editorial Record A Caminho de Macondo. A publicação desvenda o processo de criação por trás do universo mítico de Cem Anos de Solidão, obra-prima da literatura latino-americana.
Gabo “viveu” sua imaginária Macondo por quase 20 anos e este lançamento faz um compilado de publicações que precedem seu romance mais famoso, textos que ele produziu para revistas e jornais, além de ficções.
Curiosa para ler, tanto quanto para assistir à série homônima que o Netflix deve lançar em breve. Cem Anos de Solidão é para ler e reler (a melhor adaptação audiovisual não substitui o encantamento das páginas do livro).
Adélia Prado vence Camões
📖 A mineira Adélia Prado venceu edição 2024 do Prêmio Camões, o maior reconhecimento da literatura portuguesa. O anúncio foi feito na quarta-feira, dia 26. Aos 88 anos, ela começou a publicar aos 40 anos, quando mandou alguns originais para Carlos Drummond de Andrade. Sua escrita contém a densidade poética cotidiana.
O Ministério da Cultura destacou a importância da poeta, que no ano passado virou notícia depois que o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, em entrevista a uma emissora de rádio, mostrou seu total desconhecimento sobre ela. Fiquemos com a grandeza da poesia de Adélia Prado e a boa notícia de que vem livro novo por aí, depois de um hiato de 10 anos.
Ensinamento
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
‘coitado, até essa hora no serviço pesado’.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água
quente.Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo
Voo solo
🎸 Na quarta-feira, dia 26, Samuel Rosa recebeu músicos, amigos e jornalistas para um show fechado na casa Rockambole, em Pinheiros. Foi a prévia do repertório de Rosa, seu disco solo, que está disponível nas plataformas digitais.
No palco, parceiros de longa data, como Juliano “Boi” Mourão e Doca Rolim. Além deles, Pedro Kremer (Cachorro Grande), um afiado trio de metais e Pedro Dai, na bateria, como uma ótima revelação da noite.
As canções novas estão mais para baladas do que para as dançantes, que eram uma das facetas de sua ex-banda, o Skank. Tudo pareceu mais minimalista nesse novo caminho pavimentado por letras bem amarradas e melodias agradáveis. No show, ele também cantou alguns de seus hits de outrora, como Resposta e Dois Rios.
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_474,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fsubstack-post-media.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2F37461829-5a71-4cfc-855d-666d8272a66e_960x1280.jpeg)
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_474,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fsubstack-post-media.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2Ff225b41b-63b9-4a9f-b0ba-64869960b368_1280x960.jpeg)
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_474,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fsubstack-post-media.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2Fca6bcbf5-2da4-498c-ac0e-534c1a5ba0bf_960x1280.jpeg)
É interessante ver Samuel Rosa num palco pequeno. No meu caso, não foi propriamente uma novidade, uma vez que vi sua banda aportando na cena musical como revelação na década de 1990.
No evento intimista, fui de penetra, a convite da minha querida amiga Mariana Peixoto, do Estado de Minas. Ela é uma das principais jornalistas que ainda resistem na cobertura cultural da grande imprensa.
Aquela fogueira que me esquentava…
❤️🔥 Festa junina e meu coração se aquece. Faz tempo que procuro na Pauliceia Desvairada uma bem típica. Eu sei que como sudestina não vivi nem 1/3 da intensidade das festas que acontecem no Nordeste. Mas eu amo tudo na temporada: milho, quentão, pé de moleque, barracas e danças típicas. Confesso que não me importo com a comida italiana que São Paulo coloca no meio das quermesses, mas a música…
Pode parecer arrogante tentar definir um conceito de repertório ideal. No entanto Um Teto Todo Meu, como todas as news que orbitam por aqui, passa por uma curadoria. Nada me desanima mais do que a festa da igreja da minha rua priorizar sertanejo universitário. Não ouço um acorde do Luiz Gonzaga ou a voz da Elba Ramalho…Logo, não frequento.
Entrei num treta recente e uma amiga pernambucana endossou minha teoria: não é só em São Paulo, não é só no Sudeste. As festas tradicionais estão tomadas pelos artistas “topzera” e isso é uma pena. O Mangue Jornalismo produziu um texto importante sobre o assunto. E eu respondo em playlist com algumas das minhas faixas queridas.
É isso. Um abraço, obrigada e até semana que vem!
Estou animada demais pelo novo livro da Adélia Prado! E já anotei várias recomendações da news - aposto que um Gabo mediano é melhor que muito livro considerado bom de outros autores. Vamos ver <3