O amor na canção de Françoise Hardy #7
Juro que não iria falar sobre data romântica, mas a partida da diva francesa virou uma playlist na memória e nesta edição. Tem também a escrita de Mariana Salomão Carrara e um brinde às Duas Irmãs
Sempre tive fascínio pela cultura francesa. Primeiro veio o cinema. Antes mesmo de entender a nouvelle vague, os filmes de amor sem os tradicionais finais felizes ou mesmo conclusivos me instigavam. Eles foram a porta de entrada para o encantamento com tudo que mergulhasse em experimentações. Eu me apaixonava por aqueles personagens que vagavam por cafés parisienses sem demonstrar que tinham trabalhos exaustivos - como os norte-americanos enlouquecidos por Wall Street -, que eram leitores compulsivos, artistas e amantes…O cinema francês fazia com que eu batesse ponto em salas fora do circuito comercial, como o saudoso Usina de Cinema e o Belas Artes, em Belo Horizonte.
A música veio bem depois. Arrisco dizer que toda minha garimpagem foi pela curiosidade, a partir das trilhas sonoras de filme (obrigada, Amèlie Poulain). Dos artistas icônicos da “chanson”, típica da década de 1960, Françoise Hardy foi marcante pelo jeito minimalista, sofisticado e poético de compor e interpretar. Com uma produção intensa de discos, foi presença no cinema e na moda. Ela também eternizou duetos inesquecíveis: desde com o então marido Jacques Duntroc até com Damon Albarn, vocalista do Blur.
Françoise Hardy saiu de cena aos 80 anos, neste 11 de junho. Um dia antes de uma data que celebra o amor, somente no Brasil, porque o resto do mundo vai de Valentine’s Day em 14 de fevereiro. Em tempos muito remotos, eu fazia mixtapes para os meninos pelos quais era apaixonada. Nunca entreguei uma K7 porque a minha personalidade extrovertida ia até a página nove.
A minha forma de celebrar o amor mudou muito. Eu não guardo fitas para ouvir sozinha e também não economizo em dizer que amo. Já passei dias dos namorados nos rolês mais clichês (dá uma pequena vergonha lembrar das luzes de velas, ursinhos e flores), já passei sozinha numa boa, já passei bêbada com as amigas e já passei até comendo a pior pizza de Brasília no meio das caixas de mudança.
Eu gosto de ver as redes sociais pipocando de fotinhos românticas e declarações de amor, especialmente de casais cujo amor é visto de forma enviesada por conservadores. Também me encanta o não revelado em contas do Instagram, a vida que acontece offline. Como espectadora de um filme francês, contemplar o singelo, tal qual a imagem do rapaz no ponto de ônibus e seu buquê de flores, neste 12 de junho. Eu fiz a foto torcendo para ele não se atrasar.
Playlist da semana
Uma das minhas primeiras medidas como ganhadora da loteria é acordar no dia seguinte em Paris. Eu nem tenho roupa para ir, mas já tenho a trilha!
Dica de leitura: Se deus me chamar não vou, de Mariana Salomão Carrara (Editora Noz, 2019)
O mundo adulto sob o olhar de uma menina de 11 anos. Extremamente inteligente e sagaz, mas com a sensação completa de inadequação: grande demais, esquisita demais e sozinha demais. Maria Carmem é filha única e nasceu num ingrato mês de janeiro, no qual todos estão de férias, e a festa é um bolo de padaria sem graça que os pais compraram para o acontecimento não passar em branco (o que amplia seu sentimento de solidão). Pais que administram a herdada loja de velhos, com produtos ortopédicos e que garantem conforto para artrites, artroses e outros males…
Maria Salomão Carrara, de maneira engenhosa, expõe os desconfortos e peculiaridades da narradora que sonha em ser escritora. Uma pré-adolescente “em banho-maria”, que não gosta de usar maiô, não vê graça descer no toboágua e quer ser notada por Carlos, o menino (também) estranho que gosta de música. Soa familiar a muitas de nós. Se eu abrisse meus diários da época, eu teria muito em comum com Maria Carmem.
A despedida da infância também muda a forma sobre como vemos nossos pais e a escolha da redação da narradora para abrir o romance, a respeito de um super-herói - Homem Aranha - não é aleatória. O processo de crescer é agridoce e, como ela mesma define, cheio de “pavonhas”.
Irmãs Cervejeiras
Esta newsletter consome, apoia vibra com negócios comandados por mulheres. No último sábado, 8/6, teve brinde de um ano de um dos lugares mais gostosos da região central de São Paulo, a Cervejaria Duas Irmãs, comandada por Carol e Gabi. Elas produzem as cervejas deliciosas, tocam o negócio que remete aos bares antigos que jamais vão perder o charme, com direito a estufas com petiscos quentes e frios.
A música e o astral são sempre elevados. O preço é justo, o lugar é para não se estressar com divisão da conta, já que cada um compra sua ficha e, ainda abraça a diversidade. Não tem como não se sentir bem ali. Para os cervejeiros, as dicas são Azedinha e Caramela. A turma que só gosta de drinque vai gostar do gim artesanal na versão limão e gengibre ou jabuticaba. Um brinde de Um Teto Todo Meu para encerrar esta edição!
É isso. Um abraço, obrigada e até semana que vem!