Antes tarde do que mais tarde ainda... #1
A tentativa de volta à escrita, o tempo, uma playlist e um livro da Elena Ferrante
Quando 2024 começou, listei minhas metas possíveis dentre quais estava escrever mais. Pode parecer estranho para quem lida todo santo dia com textos. Mas eu trabalho com a escrita dos outros: corto palavras, melhoro outras, reviso erros, encaixo trechos de entrevistas que possam contar uma história ou algumas na televisão. Eu escrevia bastante quando tinha esse blog e esse. Eu já até dei meus pitacos em forma de crônica para jornal.
Só que minha escrita foi virando por demanda, por mais que eu goste de escrever sob encomenda, especialmente se o assunto é cultura. Mas voltando ao autoral, juro que eu tentei nadar contra a corrente. Também inventei podcast sobre poesia e sobre música. Participei de oficinas com escritores que admiro e fui engolida pelo clichê mais atual que existe: a falta de tempo.
Criar essa newsletter não deixa de ser uma meta, mas talvez seja mais do que isso. Talvez seja recuperar a Ludmila que escrevia em diários, no fundo do caderno durante as aulas de matemática. A Ludmila que escreveu o estatuto do “Clube Pandemônio” junto com as amigas de infância e até peças de teatro, histórias não publicadas em várias fases da vida. A Ludmila que escreveu cartas de amor (que às vezes não foram enviadas)…
Criar este espaço é ouvir tanta gente que eu amo me dando crédito: você devia escrever mais. Eu preciso me ouvir: eu devia escrever mais.
É Um Teto Todo Meu, mas sinta-se em casa!
Que este tempo - dure o que durar - seja legal, como o refrão do Pato Fu, e como essa playlist que criei para a minha primeira edição.
Para abrir
Embora nos últimos anos eu tenha adquirido conhecimentos em áreas como tecnologia, direitos humanos e sustentabilidade, vou escrever sobre o que me dá brilho nos olhos: cultura e também umas dicas de achados por Essepê, Beagá e por onde mais eu passar. Combinado?
Da minha estante
O primeiro livro que li em janeiro de 2024, não é bem um lançamento. As Margens e o Ditado - Sobre os Prazeres de ler e escrever, da Elena Ferrante (Editora Intrínseca). Eu adoro a escrita dela, devorei a tetralogia napolitana, não vejo a hora de ver a última parte da série My Brilliant Friend, cujas três temporadas estão no catálogo da HBO.
Se você gosta do estilo da Ferrante, quer conhecer suas referências ou mesmo sonha em escrever ficção, é uma ótima pedida. Meu exemplar é cheio de grifos.
Dos meus rolês
Para quem está em São Paulo, este é o último fim de semana para assistir ao delicioso espetáculo Cabaré Coragem, do Grupo Galpão, no Sesc Belenzinho. A história, como o nome sugere, se passa num cabaré onde os números artísticos são atravessados pelo humor, a ironia e o texto de Brecht.
Tudo numa mistura musical que leva tecnobrega, pop, forró, tango, Mack the Knife, Singapura (impossível não se lembrar da versão da Cida Moreira), com sotaques afrancesados, um bocado de portunhol e de “mineirês”.
O Galpão foi criado em 1982 e possui uma linguagem única. Fiel às origens do teatro popular e de rua, não tem medo de textos complexos, não tem medo do humor rasgado, não para de se renovar.
Esse é o ponto máximo de Cabaré Coragem: a gente sai dançando, de alma lavada, pensando na importância do tesão, sem esquecer a consciência de classe (e sem perder a ternura, jamais). A direção é de Júlio Maciel e em cena estão Teuda Bara, Antonio Edson, Eduardo Moreira, Inês Peixoto, Lydia Del Picchia, Simone Ordones e Luiz Rocha. Brilhantes (literalmente).
É isso. Um abraço, obrigada e até semana que vem!
Que presente receber esta newsletter. A escrita de Ludmila é vento bom, abrindo janelas e abraçando a alma. Vida longa a Um Teto Todo Meu!
Que bom que tá aqui e se colocando novamente nesse nosso desafio diário de gritar com palavras. Bem-vinda ❤️